Olá, chamo-me António,tenho 36 anos e tenho epilepsia como consequência de Esclerose Tuberosa.
O diagnóstico foi feito e confirmado quando tinha 12 meses, os sintomas que despertaram a minha família para que algo comigo estava mal, foram dificuldades em sentar-me e outras falhas no comportamento que não era o certo para a idade.
A minha doença não afectou em alguma coisa o meu desenvolvimento físico ou intelectual, fui sempre um aluno com um aproveitamento razoável e a nível de sociabilidade não afectou o comportamento com outras pessoas.
Os sintomas ou chamadas crises, nos primeiros anos da minha infância e parte da juventude não aconteciam, e se fosse o caso manifestavam-se de forma muito leve,em parte derivado à medicação que tomava que seria a mais eficaz para o meu caso, (ainda hoje pergunto por esse medicamento ao meu medico mas a resposta é que traz efeitos secundários noutros órgãos tomado durante muitos anos).
A partir dos meus 20 anos, as crises comeram a aparecer mas algo que se suporta com simples tonturas e de longe a longe apareciam as mais fortes,que são bloqueios (do género de alguém falar para mim eu conseguir ouvir tudo e não conseguir responder) ou outro sintoma que é tipo curto-circuito, quando acontece não tenho o controlo sobre o que estou a fazer indo sempre em frente, se estiver a conduzir ir para a outra faixa ou sair da estrada e cair numa ravina ou coisa do género.
À medida que a idade vai avançando aumenta a frequência e intensidade das crises, o que faz com que seja difícil de acertar com a medicação. Esta doença cria ramificações noutros órgãos aos que, é necessário fazer consultas e exames de rotina para saber se não degeneraram em algo pior ou se continuaram no mesmo estado.
Eu estudei até ao 12ºano em três fases,a primeira foi até ao 8ºano,depois sem querer fui obrigado a desistir de estudar porque me baldei um pouco, (mas mesmo assim consegui concluir o ano com sucesso), pouco tempo depois,comecei a trabalhar.
Fui trabalhar na primeira oportunidade de trabalho que apareceu, e foram 11 anos num campo de tiro aos pratos,bom ambiente entre colegas e atiradores de todas as classes sociais que frequentavam esse local.
Prestes a ser despedido decidi recomeçar a estudar para fazer o 9ºano no ensino recorrente da época, ao mesmo tempo trabalhava das 10h às 18e30h estudava das 19e45h às 23e30h e chegado a casa ainda tirava uma hora para fazer testes de código para tirar a carta.
Segunda parte,depois de conseguir a carta e estar perto de ter o 9ºano (só não foi feito por causa da matemática), mas como era necessário recorri a uma forma mais fácil e prática para o conseguir... fui para o sistema de ensino para a estatística R.V.C.C. no qual consegui fazer a escolaridade pretendida mas sem conteúdo algum,algo que por um lado fez com que ficasse desiludido com o sistema e questionar a forma de ensino.
A terceira parte foi a conclusão do 12ºano, este sim teve conteúdo com matérias que usamos diariamente na teoria e na pratica,esse foi um curso EFA/SECUNDÁRIO.
As crises que tenho limitam-me um pouco a nível laboral porque não posso conduzir, e todos ou a maioria das ofertas de trabalho pedem viatura e carta de condução, sendo que as crises são diárias e não dizem quando vão acontecer seria um risco aceitar um trabalho que tivesse essas exigências e poderia por em perigo a minha vida e (ou)a de outra pessoa.
Devido a ter tido já um acidente por ter tido uma crise a conduzir, o que me fez ponderar os riscos que poderiam ocorrer.
Nesta altura estou desempregado,continuo à procura de algo compatível com a minha situação,desde que fui despedido ou melhor desde que a empresa fechou ainda não consegui um trabalho de longa duração, unicamente trabalhos sazonais e de pequenas durações.
Ainda tenho esperança que as coisas mudem e que a situação melhore económica e socialmente,por isso continuo a enviar currículos, a fazer candidaturas espontâneas e a ir a entrevistas sempre com pensamento positivo.
... fazer um resumo da minha vida é em parte falar das condicionantes que a esclerose tuberora me obrigou a ter, e pensar que uma grande parte da minha vida até ao momento tem sido passada em consultas e exames de rotina em várias especialidades,porque esta doença afecta outros órgãos e têm de ser vigiados com alguma frequência para saber se as coisas se mantém estáveis ou estão a evoluir negativamente (o que não é o caso felizmente até ao momento), e assim espero que continue a ser durante muito tempo.
No meu caso ando a ser seguido em quatro especialidades,já tive um contra que foi, a perda de parte da visão mas segundo os especialistas é quase certo que neste caso fique por aqui, porque a parte da visão que perdi foi do lado do cérebro no qual tinha maior incidência dos ditos "tumores",que desencadeavam as crises,mas de resto tudo bem.
No espaço entre as idas às consultas, levo uma vida normal, tirando todas as limitações às quais estou sujeito, ainda tenho possibilidade de encontrar um trabalho que possa executar e não são tão poucos como pode parecer para quem não conhece a realidade da doença, temos de obedecer aos requisitos pedidos, e muitas vezes passam ao lado as oportunidades por infelizmente a sociedade sofrer de uma doença pior de que a nossa que dá pelo nome de"preconceito ou ignorância", que no fundo são da mesma família, conseguimos ser úteis em algum lado se não for na construção civil pode ser como recepcionista ou administrativo(A).
Basta as pessoas estarem interessadas em colocar pessoas como eu, e muitos outros, a exercer trabalhos que se ajustem à sua condição física ou de outro aspecto.
A nível social acontece muito este caso,somos convidados para festas de anos casamentos ou ao fim de semana ir beber um copo com os amigos, além de não podermos beber álcool, tomar café, beber cola ou fumar, não impede de nos divertirmos e possamos conviver com as pessoas, mesmo que algumas vezes alguns amigos digam: vá lá um copo não faz mal de vez em quando!
Diverti-mo-nos de igual forma bebendo álcool ou sumo e água. A ideia final é, enquanto depender de nós não devemos desistir de lutar e tentar fazer com que as pessoas compreendam que o que isto é, e tenham mais conhecimentos sobre o assunto para não ficarem com pensamentos errados sobre nós e as nossa capacidades em fazer qualquer tarefa seja a nível laboral, como intelectual, conseguimos executar igual ou melhor a uma pessoa sem esse problema aquilo que nos é pedido.
Não vamos desistir somos e seremos úteis em qualquer lugar desde que nos dêem oportunidade de mostrar isso.
Parabéns António, pelo seu percurso de vida e a sua força em querer vencer. O seu testemunho é muito importante, para que outros portadores da doença percebam que podem fazer uma vida "normal",e concordo plenamente quando diz que a sociedade está doente. No caso do meu filho Hélder, que já aqui foi publicado,a qualidade de vida não se pode comparar á sua, com quase 20 anos (a completar no próximo dia 6)ele é completamente dependente, tem várias convulsões/crises diariamente entre outras complicações.Ainda bem que outras pessoas conseguem viver com a doença desta forma. Muita força e muitas felicidades para si e a sua familia.
ResponderEliminaragradeço as suas palavras e retribuo desejando felicidades e força para enfrentar esta situação.obrigado
ResponderEliminarMuitos Parabéns António, pela força e pelo espírito positivo que mantém. Este testemunho é uma enorme esperança para todos os portadores de Esclerose Tuberosa e suas famílias.
ResponderEliminarMuito obrigada por nos ter dado o seu testemunho, tal como a mãe Manuela disse é muito importante para todos nós.
Forte abraço
Fiquei muito feliz Antonio em ler este.Me trouxe mais forças pra que eu nao perca as esperanças de dias melhores.Pois tenho um filho portadodor da E.T. que se chama Felipe,ele tem 10 anos de idade,muito esperto,mas bastante dependente por suas limitaçoes..Parabéns e que sejas muito Feliz!
ResponderEliminarAgradeço muito o apoio que me dão,e o apoio e força que posso dar a pessoas que têm o mesmo problema.O meu obrigado a todos
ResponderEliminarOlá António,
ResponderEliminarAcabei de ler a tua história de vida encarada com tanto positivismo e força interior. Sou a mãe da Natasha de 29 anos que enfrenta diáriamente os mesmos desafios e preconceitos qu tu, desta nossa sociedade por vezes desumanisada. Mas a tua força, a da Natasha e de tantos outros jovens adultos que conseguem fazer frente a todo este painel insensível, dá-nos uma luz de esperança para continuar. Quero dizer-te também, que a Natasha já tinha lido a tua história inicial e feito um comentário para ti, mas algo correu mal que não está gravado. Porém, se quizeres contactá-la, é só dizeres. Sería positivo formar um pequeno grupo de jovens adultos em Portugal, com autonomia e menos afectados pela Esclerose Tuberosa para a partilha de experiências, pois vocês são a referência positiva para os portadores mais jovens. Desejo-te toda a sorte do mundo.
Um abraço!milayoliveira@gmail.com